Nos vinte e dois volumes que precedem o presente, procuramos compreender o nosso mundo, orientando-nos, pelo menos em linhas gerais, com referência ao problema do conhecimento. Não pretendemos ser infalíveis e oferecer um produto definitivo que valha para sempre. Mas cremos que ele hoje sirva mais do que os produtos usados no passado, que eram adaptados à época, mas não ao momento atual, que é de grandes mudanças. Sabemos que a verdade é relativa em evolução. Há uma verdade absoluta e definitiva, mas ela é o ponto de chegada de quem está a caminho e, como tal, ao longo desse caminho não pode haver senão verdades relativas à sua posição e ao nível evolutivo atingido, uma após outra, progressivamente.
O conceito de relatividade do verdadeiro não elimina apenas o antagonismo entre o velho e o novo, mas também aquele entre as verdades individuais. Toda supressão de formas de luta é progresso que facilita a solução do problema da convivência pacífica.
Sempre para respeitar o fato positivo desse relativismo, propomos as nossas conclusões como hipóteses de trabalho, cuja validade o leitor possa depois controlar experimentalmente ele mesmo, aplicando-as à sua vida. Desejamos que ele se convença por si e não que creia em nós segundo o velho sistema do princípio de autoridade. Não assumimos nenhuma posição de mestre que, colocando-se na cátedra, despeja sapiência. Não buscamos seguidores. Quem nos lê deverá fazer o esforço de compreender, sem pretender que outros o façam em seu lugar, fornecendo-lhe os resultados a fim de que ele os adquira sem fadiga. Colocar-se na corrente da Lei confere uma grande força; procuramos que também o leitor a conquiste por si, colocando-se também ele dentro da corrente.
Nos encontramos diante de uma revolução de substância, consistente na renovação dos valores sobre os quais se baseia a vida e os pontos de referência em função dos quais se executa a nossa conduta. Cremos neste novo tipo de revolução, não porque nos sintamos capazes de iniciar uma mudança de tal grandeza, o que é absurdo, mas porque vemos que os tempos estão amadurecendo e que com o novo milênio nos encaminhamos por essa estrada. A força que impulsionaria a mudança é devida à possibilidade hoje existente de compreender o rendimento positivo e imediato deste novo estilo de vida e, portanto, a vantagem de realizá-lo com seriedade.
Uma das bases desse novo estilo é a eliminação do absolutismo e de sua imobilidade em questão de verdade, para substitui-los pelo conceito de verdade relativa, em movimento de transformação evolutiva. De fato, cada período histórico possui sua verdade, aquela da qual ele tem necessidade para executar seu trabalho de construção da vida. Então, sendo este diverso de um período para outro, porque o trato evolutivo a percorrer é diferente, eis que a verdade dominante em função dele deve também ser diversa.
Do livro ” Pensamentos” – parte 1 – cap 03