Atualmente, a honestidade é considerada pelo involuído, muitas vezes, como debilidade, peso moral que embaraça a luta, posição de inferioridade, forma antivital de inconsciência, desequilíbrio, moléstia do espírito. Essa a perspectiva das coisas, do ponto de vista em que o involuído se coloca. Mas o ponto de vista pode mudar e então, a perspectiva muda automaticamente. Como a retidão, a inocência e a obediência à Lei podem constituir instrumento de defesa melhor que a força, o egoísmo e a astúcia? Simplesmente absurdo, dirá o involuído. Não. É absurdo apenas para quem não possui o sentido orgânico da vida. E esta organicidade da vida é qualidade essencial sua, estado universal e acessível a todos, em qualquer tempo e lugar, porque depende da própria maturidade e não da compreensão alheia e do grau de organização social. Essa organicidade acha-se pronta a receber no seio todo indivíduo que saiba pensar e agir organicamente, não como arbítrio individual, mas como função coordenada no funcionamento universal. O indivíduo, ao contrário, pensa e age desorganizadamente. Crê ser forte e dominador; no entanto, não passa de caótico e destruidor. Seu egoísmo, que acredita ser-lhe necessário, é o princípio de sua desagregação; seu hábito de impor-se – para ele, meio de poder – não passa de excitante de reações dolorosas da Lei; o imediatismo da vantagem obtida nos resultados próximos é apenas a imprevisão do dano que inevitavelmente os resultados longínquos lhe trarão.
Inútil estar sempre cogitando novos sistemas sociais, enquanto não se puder dispor de outro tipo humano como material construtivo. Com esse homem anti-social e caótico não se pode pretender sólida construção coletiva. Para tanto, esse material deve ser cimentado pela fé e manter-se no espírito de cooperação, na disciplina material e moral e, acima de tudo, na retidão interior. Em face desse princípio fundamental de ordem, torna-se secundária, quase sem importância, a forma do sistema social, segundo o qual os homens tanto se separam e tanto se batem. Não é a estrutura do sistema o que importa e decide, mas haver entendido a lógica e a vantagem, até mesmo individual, da honestidade, esse novo e mais orgânico utilitarismo, e ter compreendido, ao contrário do que possa parecer ao involuído, como a retidão é força, ajuda na luta, posição de superioridade, forma vital de consciência, equilíbrio, saúde do espírito. Algum sábio, sem dúvida, já o disse e redisse. Mas na vida dos povos valem os atos de muitos e não as palavras de poucos.
Para solução de todos os problemas, repetiremos sempre, necessitamos compreender a Lei. Não vivemos no vácuo, em meio ao nada, no caos; estamos, pelo contrário, mergulhados em oceano de forças e, entre elas, somos força também; não podemos isolarmo-nos, fugir do regime de interdependência que liga tudo a tudo. Todo fenômeno tem vida e se move segundo trajetória determinada; representa impulso, vontade de existir em dada forma, de progredir em direção a determinada meta; representa dinamismo inteligente. Forma, vontade ativa e princípio diretor acham-se presentes em qualquer época e lugar. O conjunto imenso de todas as formas coordena-se em hierarquia; a rede de todos os impulsos, em sistemas dinâmicos; e o feixe de todos os princípios, na Lei. Tudo é ligado, sensível, correspondente. Não se podem evitar as proporcionadas e precisas reações a todos os movimentos. Tudo ecoa e repercute em cadeias de ações e reações. Então, a melhor defesa consiste na consciência tranquila.
Do livro “A Nova Civilização do Terceiro Milênio” – cap 6